domingo, 21 de novembro de 2010

Sobre o título

BOVARISMO

"Termo cunhado em 1892 por Jules de Gaultier a partir do romance de Gustave Flaubert, Madame Bovary, cuja heroína, saturada de leituras romanescas, mede a sua própria vida pelos parâmetros provenientes da sua experiência de leitora. O bovarismo consiste, assim, numa insatisfação romanesca com a realidade, numa inversão do olhar, e demonstra a incapacidade de assumir uma posição crítica em relação à ficção. O abismo que se abre entre as duas experiências, a da realidade e a do imaginário, confere uma dimensão ao mesmo tempo trágica e irônica ao bovarismo.
A noção inicial de bovarismo estendeu-se e passou a frequentar outros contextos. Assim, a psicologia apropriou-se do termo para referir-se a certos tipos de atitude neurótica em que o indivíduo, desprovido de autocrítica, imagina-se diferente do que ele é, idealizando a sua personalidade, especialmente no campo sentimental. Além disso, na América Latina, o termo vem sendo empregado também com o sentido da alienação intelectual que precede a construção de uma identidade cultural própria; o teórico haitiano Jean Price-Mars é o primeiro a utilizá-lo neste sentido.
Se a noção de bovarismo implica alguma positividade, esta reside no facto de a perpétua insatisfação e o contínuo trabalho da imaginação prefigurarem o desejo de escrita do qual o personagem de Emma Bovary fornece um modelo, embora ingênuo. Assim, a análise do bovarismo proposta por Alain de Lattre descobre, na forma da tolice de Emma e na forma da inteligência criadora de Flaubert, um mesmo princípio: a distância invencível entre o mundo e si, entre si e si mesmo."

Paula Glenadel Leal

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Fábio disse...

Resolvido o problema! ; )