sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A patrulha

Dia desses, há mais ou menos umas duas semanas, eu estava numa festa com alguns amigos e acabei bebendo um pouco além da conta. Fiquei bem mais alegre do que o normal, tenho consciência disso, mas não dei vexame. Nunca dou. Não passo mal, não fico prostrado. Não me entrego. Fico um pouco tonto, falo besteira, faço coisas que a minha boa educação normalmente não me permitira fazer, mas, de maneira geral, nunca é como se eu estivesse louco de bala. No final da noite, geralmente volto pra casa plenamente consciente de tudo o que aconteceu. O cabelo volta um pouco comprometido, a cara meio cansada, mas nada que deponha contra a minha conduta. (risos)

Pois bem, estou contando isso tudo porque, nessa ocasião, ouvi um comentário bastante grosseiro dirigido a mim. Foi assim: eu já tinha bebido bastante, meus amigos estavam todos espalhados pela pista de dança, e o cansaço já começava a tomar conta de mim. Já era bem tarde, a festa estava ficando vazia, as músicas começaram a ficar tristes. Era a minha deixa. Queria ir embora, mas tinha que esperar as pessoas que estavam comigo. Saí da pista e fui para a área de fumantes, onde já não havia mais tanta fumaça. Apenas alguns cigarros continuavam acesos por lá. Fiquei encostado num canto, super na minha, lendo a minha timeline do twitter. E aí, de repente, percebi que as pessoas estavam olhando pra mim. Fingi que não percebi o que estava acontecendo e comecei a prestar atenção nos comentários: 

"Nossa, olha essa pessoa! Que derrota!" 

"Cara, nenguim num sabe beber!"

"E esse tênis que não combina com o resto da roupa?"

Diante desse último comentário, tive que reagir. Levantei a cabeça, olhei na direção das pessoas que estavam falando essas coisas todas sobre mim e disse, "então vocês gostaram do meu tênis, é isso?" Eles ficaram super constrangidos, obviamente, porque provavelmente imaginaram que estavam chutando cachorro morto, que eu não ouviria aqueles comentários e que, logicamente, não haveria nenhuma reação minha. Mas eu estava well aware of what was going on. Um deles disse que, na verdade, os outros estavam equivocados, e que o meu tênis combinava com um detalhe da minha calça. E me explicou isso como se eu fosse uma criança de 5 anos de idade porque, afinal de contas, ele estava lidando com um ébrio.

Na hora, não sei muito bem como me senti em relação às críticas que me fizeram. Só sei que fiquei bastante incomodado com os comentários, afinal de contas, ninguém gosta de saber que estão falando mal de você. A minha questão, porém, não era essa. Não fiquei chateado com o fato de ter ouvido o que eu ouvi. Fiquei pensando, na verdade, em como as pessoas são babacas.

Sim, as pessoas são babacas. Elas podem frequentar o Barra Music ou o Teatro Odisséia, a Baronetti ou a Fundição Progresso. As pessoas sempre serão babacas. Elas vão ver uma pessoa bêbada, jogada num canto, e vão achar engraçado. Vão rir, vão fazer comentários maldosos. Vão se aproveitar da fragilidade alheia pra alimentar um sentimento de superioridade estúpido. E, pra completar, vão procurar mais alguma coisa para falar mal. 

Ora, se eu estivesse num ambiente mais hegemônico, eu até entenderia a reação das pessoas ao meu tênis. Só que não era o caso. Eu estava num lugar onde as pessoas costumam ser um pouco mais livres, um pouco menos determinadas pelo pensamento mainstream. (Or was it just my imagination?) Ser acusado de errar na combinação foi um choque pra mim. Muito menos pela acusação em si, mais pelo contexto em que ela aconteceu. Eu entendo quando as minhas tias acham graça das minhas roupas, quando os meus tios questionam as minhas escolhas. Embora eu não leve nada do que eles digam em consideração, eu consigo entender o ponto de vista deles. Ouvir isso de gente jovem e supostamente cool é um espanto. Porque, no final das contas, fica aquela impressão de que, por mais modernas que queiram parecer, as pessoas sempre terão uma tia chata dentro delas, daquelas que acham que combinar bolsa com sapato e cinto é o último grito da moda, daquelas que fazem a patrulha da roupa alheia. 

As pessoas não sabem se divertir com o que vestem. Too bad. Só não venham querer acabar com a minha diversão!

No mais, vou deixar que a Cris Guerra fale por mim:



Ah, o tênis da discórdia é esse aqui, ó:

Tá sujinho, eu sei! :P

Usei com um jeans rasgado, de lavagem detonada + camiseta cinza mescla com estampa de caveira + cordões, pulseiras e anéis. Será que ficou tão desarmonico assim? ¬¬



3 comentários:

Thiago S. disse...

"As pessoas não sabem se divertir com o que vestem. Too bad. Só não venham querer acabar com a minha diversão!"

Nailed it, Fábio!

Nat Benetti disse...

Acho que vc deveria brincar de escrever numa coluna de jornal... Seu texto é incrìvel, super bem arrematado e muito bem embasado. U were born a real writer!!! :)

Fábio disse...

Que lindas palavras, meu amor! Muito obrigado pelo elogio! :)